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em 01/02/2013

Artistas israelenses cegos e surdos usam toque e aromas para se comunicar com o público

Cena do espetáculo Nem só de Pão. Foto: Rina Castelnuovo/NYTNS Cena do espetáculo Nem só de Pão. Foto: Rina Castelnuovo/NYTNS

Artistas israelenses cegos e surdos usam toque e aromas para se comunicar com o público Grupo teatral israelense Nalagaat se apresentou em Nova York, com o espetáculo "Nem Só de Pão", em que cozinham o alimento diante da plateia Tel Aviv, Israel — No espetáculo "Nem só de Pão", que estreou nos Estados Unidos no Centro Skirball de Artes Cênicas, na Universidade de Nova York, pinceladas de lembranças puras, viagens fantásticas, esquetes de pantomima e fragmentos de sonhos — fugazes, mas indeléveis — somam-se a um fenômeno teatral que atrai o público para o mundo dos artistas. Os atores do Nalagaat — o nome, em hebraico, significa "por favor, toque" — não veem nem ouvem o público. A maioria deles não fala. Os intérpretes transmitem sua voz interior de acordo com um roteiro, e legendas em inglês, hebraico e árabe aparecem em uma tela acima do palco. Em alguns momentos, uma trilha sonora ao estilo do cinema mudo soa ao fundo. Em outros, o público é convidado a cantar junto uma música composta para o espetáculo. A todo o tempo, os atores interpretam uma tarefa tátil e terrena: amassar e cozer pão, enquanto os fornos na parte de trás do palco sopram os aromas. Eles compartilham pensamentos sobre temas como a quem eles mais querem dar o pão (uma alma gentil, uma criança com fome) e do que se trata a vida. O quadro de abertura, com 11 padeiros sentados em longas mesas, evolui para uma sucessão de cenas meticulosamente cronometradas, algumas cômicas, tangendo o burlesco, como uma visita imaginária a um cabeleireiro de celebridades, e outras mais realistas e comoventes. A história da criação da Nalagaat nasceu de casualidades: um encontro entre um grupo de adultos com deficiência e uma diretora de teatro que garante ter pouca paciência e ainda menos sentido de compaixão. — No passado, muitas vezes as pessoas me perguntavam se eu queria coordenar oficinas para pessoas com deficiência — disse Adina Tal, presidente e diretora artística da Nalagaat, em uma entrevista — Era algo que não me interessava, mas achava bom que outras pessoas se dedicassem a isso. Porém, cerca de 14 anos atrás, Tal, nascida na Suíça, foi convidada a realizar uma oficina de dois meses para os integrantes surdos e cegos de um clube social. Ela concordou e ficou cativada pelo desafio de criar uma nova forma de comunicação. A oficina acabou se tornando uma companhia de teatro itinerante. Em 2007, o grupo se mudou para sua sede permanente, o Centro Nalagaat, no antigo porto de Jaffa, em Tel Aviv. — Não existia nenhum outro grupo de teatro formado por surdos e cegos — disse Tal, que tem 59 anos. Ela começou a trabalhar com a ajuda de intérpretes de línguas de sinais e com muitos apertos de mãos. — Eu não fazia a menor ideia — disse ela — Porém, de alguma forma, dentro de mim, sabia exatamente o que fazer. Alguns assistentes sociais achavam que ela era muito exigente com seus atores. — Talvez eu tenha sido a primeira pessoa a não dizer que qualquer coisa que eles faziam era incrível. A primeira produção do grupo, "A luz é Ouvida em Ziguezague" (2003), sobre sonhos e aspirações, originou-se de um longo processo no qual os atores trabalharam em aspectos de ritmo, improvisação e movimento do corpo. Por fim, eles aprenderam a expressar suas emoções e fantasias em pantomima. Após três meses de trabalho, um membro do grupo disse a Tal que a pantomima não fazia sentido e que ele queria fazer uma peça de Gorky. — Perguntei a ele: "Como? Você não ouve, não vê nem fala'" — lembrou Tal — Ele disse: "Isso é problema seu. Você é a diretora". Eu disse: "Não, o problema é de vocês. Vocês são os surdos e cegos". Nós não fizemos o Gorky porque a força do grupo está no fato de que eles não são como os outros atores. Eles tiveram de criar a sua própria verdade. Baseando-se nos sentidos do olfato, do paladar e do tato dos atores, Tal explorou as conexões proporcionadas pela experiência de preparar alimentos. Ela fez com que a companhia preparasse saladas e outros pratos básicos, e a atividade se consolidou no exercício de cozer pão. No caso de "Nem só de Pão", Tal também elaborou o método de usar tambores como forma de pontuação entre as cenas. Após seis meses, os artistas tinham aprendido a sentir e responder às vibrações do instrumento, o que lhes apresentou uma nova relação com o mundo da visão e da audição. — Nós os vemos, mas também nos vemos através deles — disse Tal — Para mim, isso é arte. No Centro Nalagaat, algumas pessoas do público podem compartilhar a comida, antes ou depois da performance, no Restaurante Blackout, onde os sabores do alimento e do vinho, servidos no breu mais absoluto, adquirem uma intensidade especial. Garçons e garçonetes cegos se deslocam ao redor das mesas, usando sinos, e os clientes recebem petiscos. Ao final do espetáculo, quando as bandejas de pão saem fumegantes do forno, o público é convidado ao palco para uma degustação. Os atores se misturam à multidão, comunicando-se com a ajuda de intérpretes e com o toque — o que faz lembrar a necessidade de contato humano, mesmo quando vias normais de comunicação estão fechadas. É uma mensagem simples e universal que Itzik Hanuna, que nasceu cego e ficou surdo aos 11 anos, transmite poderosamente do palco. Em um monólogo angustiante, ele se lembra de quando ficava preso em seu quarto, quando adolescente, sozinho com seus pensamentos. — Geralmente, sinto-me acostumado à escuridão e ao silêncio — declara em seu tom de voz característico, agudo e uniforme — Naquele momento, porém, eu os senti com tanta intensidade que achei que não fosse suportá-los. — Comecei a vagar ao redor da sala. De repente, senti o toque de uma mão. Quando alguém toca minha mão, sinto que minha solidão começa a desaparecer. Eram seus amigos, que tinham chegado para levá-lo para passear.

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