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em 19/05/2011

Andando no escuro, mas com bengala e piso tátil

Piso tátil foi instalado na Paulista em 2008. Piso tátil foi instalado na Paulista em 2008.

Em caminhada  pelo piso tátil da Avenida Paulista, descobrimos que ainda são necessários mais recursos de auxílio para os deficientes visuais Muita gente não sabe, mas a Avenida Paulista, aos sábados, pode estar tão movimentada quanto nos atribulados dias de semana, quando milhares de pessoas se arrastam para seus trabalhos nos prédios localizados no símbolo da cidade de São Paulo. Pois foi num sábado que Diego Castro, deficiente visual desde 2004, nos acompanhou em uma caminhada pela Avenida Paulista para explicar na prática quais são as dificuldades e facilidades enfrentadas por esse público na hora de “se virar†por ali. Logo na saída do metrô Consolação, ao tentar atravessar a Rua Augusta, Diego já encontra um problema. Apesar de conseguir identificar, através do barulho dos carros, quando o farol da rua está aberto para os pedestres atravessarem, é imprescindível a ajuda de algum outro pedestre na hora de fazer a travessia. Ou então seria adequada a instalação de equipamentos sonoros: “A ausência do semáforo sonoro limita a gente principalmente nesse sentido, porque em frente a algumas instituições de cegos nós temos o aviso sonoro. Quando o farol fecha, ele começa a fazer um barulho, e nós sabemos que enquanto existir esse barulho podemos atravessar. Aqui já não funciona bem assim!â€, conta. Tamanha falha na infra-estrutura para deficientes visuais na Avenida Paulista pode fazer com que este público perca um bom tempo de seus dias esperando por ajuda. “Aqui na Paulista principalmente a gente fica muito tempo esperando. As pessoas são muito apressadas e não param para ajudarâ€, explica Diego. Há ainda quem não pare, pois não sabe qual é a melhor forma de abordá-los nessa situação. Normalmente, segundo o deficiente visual, a pessoa deve abordar pelo lado esquerdo, oposto ao da bengala e não mão que, conseqüentemente, está livre. Fácil, não? Outra dificuldade encontrada por Diego na locomoção pela Avenida Paulista é a presença de pedestres em cima do piso tátil, referência que o deficiente visual tem para se direcionar ao andar nas calçadas. O piso tátil é o piso diferenciado com textura e cor do piso que estiver ao redor, e deve ser totalmente perceptível por pessoas com deficiência visual e baixa visão. São dois os tipos deste piso. O de alerta (aquele de bolinhas) serve exatamente para alertar, por isso é instalado no início e término de escadas e rampas, em frente à porta de elevadores; em rampas de acesso às calçadas ou para desvios no fluxo do piso tátil direcional (o com linhas verticais). Este outro tipo de revestimento é usado para indicar a direção que seu usuário deve seguir. Além disso, as cores fortes utilizadas nesses pisos são feitas para que a pessoa que tem baixa visão possa ser auxiliada, e para que os pedestres com visão percebam que aquele lugar não foi feito para eles andarem. Estratégia que, por vezes, não é bem recebida, principalmente na Paulista. “Eu encontro muitas pessoas no meio do meu caminho, principalmente no metrô. Várias vezes e já me choquei com outras pessoas e isso é bastante perigoso. No metrô, por exemplo, você pode cair na viaâ€, desabafa Diego enquanto caminha. Isso tudo embora o metrô de São Paulo seja considerado por Diego uma das instituições com funcionários mais bem preparados para receber os usuários com algum tipo de deficiência. Ao passar pela frente de um ponto de ônibus, fica fácil perceber que não há nenhuma indicação para os deficientes visuais. “Se eu precisar de um ônibus, eu teria que pedir ajuda para um usuário que pudesse me orientar. Existe, em alguns países de Primeiro Mundo, mecanismos de identificação do ônibus. Então quando você está passando perto de um ônibus ou de algum ponto credenciado, ele indica um sinal sonoroâ€, explica Diego. Tudo indica que a famosa Avenida Paulista não é tão bem adaptada para a diversidade quanto pensávamos. Ainda no caminho sentido MASP, Diego percebe que há algumas vias nas quais não há semáforo para atravessar, o que torna a necessidade de ajuda de um transeunte ainda mais importante, já que, como ele mesmo afirma, só consegue se guiar pelos barulhos dos caros na rua. Outro problema no curto espaço de transição entre as estações Consolação e Trianon-Masp surge quando o entrevistado caminha em frente ao museu: não há piso tátil nessa região, o que dificulta (quase impossibilita) o percurso dele pelo local. O que também o incomoda, é o piso muito danificado em diversas partes da Avenida Paulista, com rachaduras e falhas, o que atrapalha bastante a identificação do deficiente. “Pode confundir. Nós temos que pensar que o deficiente visual não tem uma referência, quem tem a imagem visual da Paulista, que já enxergou, como é o meu caso, dá pra se virar melhorâ€, comenta ele. Diego já enxergou um dia. O problema de visão veio com um descolamento de retina que aconteceu em 2004. “Passei por algumas cirurgias, mas o médico não conseguiu salvar a minha visão, o olho não aguentou e ficou atrofiadoâ€, explica. Por isso, ele fala com propriedade da grande dificuldade que as pessoas que ficaram cegas enfrentam na adaptação à vida de bengala. Na ocasião da entrevista, no entanto, era o último dia de Diego usando o aparelho. “Hoje é o meu último dia de bengala porque vou começar a andar com um cão-guiaâ€, afirmou. “Ele ajuda muito a desviar dos obstáculos e impedir que você bata na parede, pois em locais sem piso tátil a parece serve de referênciaâ€, eclarere Diego. Apesar de a caminhada pela Paulista ter sido tranquila, pelo fato de terem sido instalados alguns recursos de apoio para os deficientes visuais, os arredores da avenida ainda não estão nem um pouco preparados para receber esse público. “Os arredores são os maiores obstáculos. Na Augusta, por exemplo, diversos prédios estão avançando demais na calçada e outros estão muito distantes da rua, então muitas vezes a gente bate de frente com uma parede. A calçada está muito acidentada e há muitos buracos, no entanto, não há nenhum projeto que intencione mudar issoâ€, comenta indignado o entrevistado. Tudo realmente indica que a região do símbolo paulistano ainda tem muito para evoluir se quiser ser uma referência na recepção da diversidade populacional.

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