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em 26/03/2012

Fones de ouvido proporcionam cores em peças de teatro para deficientes visuais

No teatro Vivo, um grupo de pessoas com deficiencia visual acomoda-se antes do início do espetáculo. No teatro Vivo, um grupo de pessoas com deficiencia visual acomoda-se antes do início do espetáculo.

Zezé Macedo entra no palco como Fonfunácia: peruca black power, vestido curto e decotado com enchimentos nos seios. Rebola, desce para o meio da plateia e exibe seus dotes físicos. Diz que vai se fazer de envergonhada na noite de núpcias e põe a mão no rosto, fingindo timidez. O público enlouquece, entre eles 20 deficientes visuais que não podem ver a feia figura (inclusive o autor deste texto). Visualizam a personagem com a ajuda de fones de ouvido, por meio do qual uma voz conta tudo o que está acontecendo no palco. A cena é do espetáculo "A Vingança do Espelho", em cartaz até o dia 29 de abril no Teatro Vivo, em São Paulo. A peça é pioneira no uso da audiodescrição no Brasil. Betty Gofman interpreta Zezé, atriz que protagonizou chanchadas da Atlântida, em vários momentos de sua vida, da infância ao papel de Dona Bela na "Escolinha do Professor Raimundo". "Disseram que a peça era comédia, mas é muito mais. Existe graça, mas existe emoção", diz Rodolfo Giannetti, 68, cego desde criança. Ele conta que nos anos 70 ia ao teatro mesmo sem narração. Quem não vê ou enxerga pouco recebe o programa, em braille ou ampliado, e fones de ouvido. Todos sentam em seus lugares, e a audiodescritora Lívia Mota prepara os deficientes visuais para a peça. Peça "A Vingança do Espelho" traz o recurso da audiodescrição para pessoas com deficiência visual Lívia conheceu a audiodescrição em 2003, quando estudava na Inglaterra. A primeira descrição que fez foi informal, para uma amiga cega que precisava assistir a um filme para a faculdade. Hoje, dedica 40 horas a cada roteiro que faz para as descrições. O mais complicado, explica, é escolher o que priorizar em cada cena e evitar que suas intervenções aconteçam ao mesmo tempo em que os atores estão falando. Kátia Chimabokuro, 40, é entusiasta da audiodescrição. Sempre que tem peça com o recurso, tenta levar outras pessoas. "Quando fiquei cega, parei de receber convites para sair. Agora que posso ir ao teatro outra vez, quero levar todo mundo.". O espetáculo é o único em cartaz na cidade com audiodescrição. O recurso é usado nas apresentações de domingo, quando dez pares de ingressos são oferecidos gratuitamente a deficientes visuais. EUA E RIO. Nos EUA, a audiodescrição vem se tornando realidade. Segundo Joel Snyder, presidente da Áudio Description Associates, 30 Estados americanos oferecem o recurso. Além disso, de 200 a 300 casas são acessíveis para cegos. No Rio, o Teatro Municipal Carlos Gomes começou a oferecer este ano espetáculos com audiodescrição a cada duas semanas. A peça "As Mimosas da Praça Tiradentes" está em cartaz com os recursos de acessibilidade. Ênio Cesar/Folhapress

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