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em 26/04/2012

O Cisne Negro com Audiodescrição: uma descoberta

Foto colorida de Nina, de perfil, usando tutu preto tomara que caia, com corpo bordado com pedrarias, olhos contornados de preto, coroa preta brilhante sobre cabelos presos, luvas que se assemelham a Foto colorida de Nina, de perfil, usando tutu preto tomara que caia, com corpo bordado com pedrarias, olhos contornados de preto, coroa preta brilhante sobre cabelos presos, luvas que se assemelham a

Fazia tempo que eu queria assistir ao filme O CISNE NEGRO, estrelado por Natalie Portman que faz o papel da bailarina Nina, tão perfeita em sua técnica, tão comedida em seus modos, que nos remete à deliciosa música de Chico Buarque: Ciranda da Bailarina que diz: todo mundo tem pereba, marca de bexiga ou vacina, piriri, lombriga, ameba, coceira, frieira, falta de maneira. Só a bailarina que não tem… Natalie ganhou o Oscar de melhor atriz por sua interpretação de prima ballerina no famoso balé de Tchaikovsky. O filme é um thriller, um suspense de primeira, repleto de cenas tensas, que deixam o espectador indeciso se é sonho ou se é realidade. Cenas que arrepiam os cabelos do braço e dão um frio danado na espinha. Cenas daquelas que necessitam de uma boa almofada na frente dos olhos, tamanho é o medo ou susto que provocam. No sábado passado, consegui, finalmente, assistir ao tão esperado filme. Eu já tinha ido conferir o ótimo trabalho do pessoal da Iguale no FESTIVAL SESC MELHORES 2012, na sexta feira, em Capitães de Areia, com os amigos Laércio Santana, Anésia, Paulo Romeu e Márcia Caspary, audiodescritora de Porto Alegre. Animada também com ambiente acolhedor do Cine SESC, o simpático café e o bom papo, resolvi repetir a dose no dia seguinte, desta vez só com a Márcia. Lá encontrei a Cristiana Cerchiare e outros amigos com deficiência visual. Fiquei surpresa e muito feliz com o número de pessoas com deficiência visual saindo de uma sessão, chegando para a outra. Maurício Santana confirmou que o público vem aumentando ano a ano. Isso significa que as pessoas com deficiência visual que experimentam o recurso, aprovam. Passam a apreciar ainda mais o cinema, essa arte fantástica que pode e precisa ser acessível a todos os públicos. E não é que, ao assistir O CISNE NEGRO, descobri uma coisa muito interessante!!?? Não precisei colocar uma almofada, a bolsa, ou as mãos, na frente dos olhos nas horas mais tensas do filme, o que costumo fazer, principalmente em casa, e nem ficar perguntando para quem estava do meu lado, o que estava acontecendo. Com os olhos fechados, protegida pela escuridão do cinema, me senti menos amendrontada pela agressidade das imagens, mas não alheia aos fatos, pois pude acompanhar tim-tim por tim-tim tudo o que estava acontecendo, sem perder nada, informada pelas vozes profissionais de Washington, que fazia a audiodescrição, e de Leo, que fazia o voiceover. Pois é, a audiodescrição conseguiu baixar incrivelmente o meu grau de stress ao acompanhar o filme de suspense. Descobri, assim, caros amigos leitores, mais um uso para esse incrível recurso de acessibilidade comunicacional: ótima companhia para assistir aos filmes de suspense… Sem dose alta de stress, mas completamente informada… Convido, pois, todos aqueles, que assim como eu, precisam colocar uma almofada ou travesseiro para amaciar o impacto da imagem em filmes de suspense, mas que não querem perder o fio da meada, que experimentem o recurso. Peçam os fones de ouvido e receptores em filmes ou espetáculos acessíveis ou mesmo aluguem filmes com o recurso em vídeo locadoras (já existem vários títulos disponíveis) e permitam-se conhecer a audiodescrição. Tenho certeza que vão apreciar… Comentei com a minha filha sobre a recente descoberta e ela levantou a hipótese que a audiodescrição poderia, então, tirar a emoção da cena. Argumentei que a audiodescrição acompanha sim a emoção da cena, transformando as imagens em palavras, permitindo que as pessoas com deficiência visual construam imagens mentais. Além das palavras, também as escolhas lexicais mais adequadas, a música, os efeitos sonoros, a entonação dos narradores, contribuem para criar o clima, surpreender, emocionar. Mas, devo admitir que, para nós videntes, as imagens ainda são mais impactantes. Pelo menos para mim, naquele momento, as palavras foram um pouco menos arrepiantes que as imagens de pele se dilacerando, do sangue escorrendo, cenas realmente dolorosas de se ver. O tema suspense e audiodescrição merece sim uma investigação mais detalhada, uma pesquisa que levante dados e que busque embasamento teórico tanto para a linguagem como para o impacto, susto e medo provocados no espectador, estabelecendo um paralelo entre o público vidente, sem audiodescrição e o público com deficiência visual com e sem audiodescrição. Por Lívia Motta – em 23 de abril de 2012.

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