Uma iniciativa brilhante e pioneira no Brasil, da professora de Braille baiana - de Salvador - Patrícia Braille, se transformou em projeto graças à força que ganhou com a hashtag #PraCegoVer. A fanpage do projeto descreve que o seu objetivo é "disseminar a cultura da acessibilidade nas redes sociais e tem por princípio a audiodescrição de imagens para apreciação das pessoas com deficiência visual.
Audiodescrição é uma tradução que consiste em transformar
imagens em palavras, obedecendo a critérios de acessibilidade, respeitando as
características do público a que se destina. É produzida, principalmente, para
pessoas cegas, mas tem beneficiado outras como as com dislexia, deficiência
intelectual ou com déficit de atenção, por exemplo.
Atualmente, milhares de pessoas cegas usam o Facebook com auxílio de programas
leitores de tela capazes de transformar em voz o conteúdo dos sites. Contudo,
as imagens necessitam ser descritas, para que os leitores consigam
transmiti-las às pessoas com deficiência visual".
O mesmo post na fanpage detalha como as descrições devem ser feitas. "Começo a descrever da esquerda para a direita, de cima para baixo (a ordem natural de escrita e leitura ocidental); Informo as cores: Fotografia em tons de cinza, em tons de sépia, em branco e preto; Descrevo todos os elementos de um determinado ponto da foto e só depois passo para o próximo ponto, criando uma sequência lógica; Gosto de começar pelos elementos menos importantes, contextualizando a cena, e vou afunilando até chegar ao clímax, no ponto chave da imagem".
Empresas, times de futebol, assessorias de imprensa, agências de turismo, instituições e políticos já estão aderindo ao #PraCegoVer, e colocam em seus posts - principalmente no Instagram e Facebook - a descrição das imagens. A Avon, multinacional de cosméticos; Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro; o vereador do Recife Ivan Moraes Filho; o senador carioca Romário Faria e a prefeitura de São Bernardo do Campo, no interior de São Paulo, por exemplo, estão conscientes da importância desse projeto.
A autora da iniciativa #PraCegoVer, Patrícia Braille,
especialista em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva,
Consultora da UNESCO no Projeto Livro Acessível (2009 – 2013); Consultora de
Tecnologia Assistiva, é atuante na alfabetização de pessoas com deficiência
visual.
Patrícia bateu um papo com a reportagem do Blog De Primeira Categoria,
através do Facebook. Confira:
DPC - Quando e como surgiu a ideia desta brilhante iniciativa?
Patrícia Braille - Tenho muitos amigos cegos, para os quais sempre descrevia
imagens (na rua, vendo filmes, lendo livros) de forma intuitiva, espontânea. Em
2007 criei um
blog para publicar textos meus e sempre incluía uma imagem para enriquecer
o post. Uma leitora assídua, entre os escassos visitantes da página, era uma amiga
minha que tem deficiência visual, por isso me pareceu incoerente que ela não
pudesse desfrutar de todo o conteúdo.
Embora existam meios de inserir texto alternativo em sites, na época não
consegui identificar sequer uma página que obedecesse aos princípios da chamada
Audiodescrição*. Quando aderi ao Facebook, muitos cegos me adicionaram, de modo
que eu não me permitia postar sem descrever.
Pela passagem do aniversário do criador do Sistema Braille,
Louis Braille, criei em 4 de janeiro de 2012 um evento virtual no Facebook
chamado “Pra Cego Ver”, convocando pessoas a experimentarem descrever para um
cego. Foi um sucesso! Em seguida criei a página, para não deixar a ideia cair
no esquecimento. Em resumo: “enxergar” a existência de pessoas com deficiência
nas redes sociais foi minha motivação.
DPC - Qual a sua expectativa para os proximos anos, no que se refere à
inclusão (em geral) das pessoas com deficiência visual?
Patrícia Braille - Inclusão é uma revolução social sem retorno. É fruto da
luta das pessoas com deficiência, muito mais que qualquer outra coisa. Nenhum
governo ou partido fez mais pela inclusão do que as próprias pessoas com
deficiência, seus familiares, amigos e gente consciente. Estamos bem
abastecidos de leis, mas falta efetivar.
Falta muito. Falta, por exemplo, a consciência de que acessibilidade não é
apenas para quem tem deficiência. Uma rampa também facilita a vida de um idoso,
de uma mãe com carrinho de bebê, de um homem com carrinho de supermercado. Não
se muda consciência por decreto, mas estamos efetivando mudanças profundas e
irreversíveis daqui pra frente.
Nós agradecemos imensamente a atenção da professora Patrícia Braille e
parabenizamos esta importante iniciativa! Fica aqui a dica para outras
empresas, políticos, instituições, personalidades, etc., se inspirarem para
começar a fazer o mesmo! Quanto mais meios de inclusão, melhor!
Por Zalxijoane Lins, com informações do Facebook/Pra Cego
Ver.
Imagem de capa: Portal ABC do ABC/Prefeitura de São Bernardo do Campo.