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em 31/01/2011

Um livro em braille sem páginas perfuradas

Um livro em braille sem páginas perfuradas Um livro em braille sem páginas perfuradas

A designer gráfica brasileira Wanda Gomes criou novo método de impressão com imagens e até cheiro Acaba de ser enviado a escolas, bibliotecas e instituições educacionais, um livro em braille diferente. Adélia cozinheira, que lança a Coleção Adélia, é o primeiro título 100% inclusivo. Isso porque permite a leitura simultânea de crianças com e sem deficiência visual, já que o livro não tem suas páginas perfuradas pelo método tradicional. O trabalho é o resultado da união entre as pesquisas da designer gráfica Wanda Gomes, da concepção literária da escritora Lia Zatz e das ilustrações da artista plástica Luise Weiss. Utilizando o mesmo sistema do braille (com as letras resultando da combinação entre seis pontos), o novo processo diferencia-se por não furar o papel, permitindo a edição de grandes tiragens e em conjunto com a impressão offset, o que garante ao material maior durabilidade e a possibilidade de unir o braille a cores e texturas. Dessa forma, o novo sistema de impressão, denominado Braille.BR, é fator preponderante na democratização do acesso aos meios culturais e de inclusão social, já que elimina o isolamento a que as crianças com deficiências visuais são submetidas na maioria das escolas. Responsável pelo texto, Lia Zatz utiliza uma retórica simples e direta, abordando por meio de assuntos ligados à autonomia, independência e relacionamentos, temas importantes das atividades diárias do universo infantil. Em Adélia cozinheira, a menina Adélia exercita sua independência preparando o café da manhã para fazer uma surpresa aos seus pais, que ainda dormem. Utilizando aromas, relevos e texturas, as contrastantes e coloridas ilustrações de Luise Weiss andam lado a lado com o texto, cumprindo de forma rica a função da informação, seja através do traço solto e diferenciado daquele comumente encontrado na literatura infantil, seja através da aplicação extremamente cuidadosa das cores. O nome da personagem foi inspirado em Adélia Sigaud que aprendeu braille com José Álvares de Azevedo, que havia estudado seis anos em Paris. Adélia Sigaud, cega, filha do Dr. Xavier Sigaud, médico francês que esteve a serviço da corte de D.Pedro II, foi a primeira mulher brasileira a dominar o sistema braille, tornando-se mais tarde grande estudiosa do assunto. A coleção Adélia, fruto de ampla pesquisa de conteúdo e forma, é adequada tanto para quem é totalmente cego como para quem tem visão subnormal ou normal. O objetivo da publicação é atingir o público infantil de 3 a 10 anos, incluindo crianças com deficiência visual com grau de limitação de 10 a 100%. No Brasil, estima-se que existam 1,2 milhões de pessoas cegas e quatro milhões com algum tipo de deficiência visual. Projeto gráfico A impressão Braille.BR é sobreposta e não prejudica a qualidade da impressão normal em offset. A leitura da primeira não interfere na segunda e vice-versa, e por essa razão é 100% inclusiva. A durabilidade é indeterminada e os pontos não cedem à leitura/pressão dos dedos, como na impressão convencional do sistema braille. Além disso, a qualidade visual não é prejudicada, já que o novo sistema de impressão não rompe o papel e não causa baixo relevo no verso da folha. Mas o projeto gráfico de Wanda Gomes não se resume à aplicação do inovador sistema de impressão braille; todos os elementos gráficos do livro foram trabalhados de forma a enriquecê-lo nos três aspectos da percepção humana: visual, tátil e olfativa. Assim, o aproveitamento da obra assume alto nível qualitativo convidando todas as crianças à imaginação e à experimentação. Os caracteres foram ampliados e a fonte foi escolhida com base em estudos e pesquisas realizadas por estudiosos e profissionais em design de tipos para crianças. A publicação traz em suas páginas ilustrações com brilho, textura e relevo, aplicados por meio do processo de impressão serigráfica, a partir de fotolitos especialmente confeccionados para produzirem características especiais e variadas sobre as ilustrações de Luise Weiss. Além disso, conta com a aplicação de dois aromas em forma de microcápsulas, conferindo aos objetos representados maior capacidade de aguçar os sentidos da criança. Considerando as necessidades específicas dos deficientes visuais, o design utiliza-se ainda de cores fortes e contrastes, com o intuito de favorecer a leitura e oferecer a maior qualidade de percepção visual possível. Lei Rouanet Adélia cozinheira recebeu incentivo para produção de três mil livros da IBM Brasil, através do benefício da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura. A tiragem foi doada a bibliotecas públicas e instituições de ensino. A tiragem comercial está em fase de captação de recursos e tem valor estimado de R$ 65. O sistema de impressão Braille.BR contou com apoio técnico da empresa Efeito Visual Serigrafia, gráfica especializada em alto relevo, que desenvolveu a tinta exclusiva e realizou numerosos testes de impressão e leitura, necessários ao completo desenvolvimento do projeto.

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